O Poeta Está Morto

O poeta está morto, já lhe faltam as palavras...
Sentimentos escritos, histórias mal contadas...
Contos vividos, amores não correspondidos e romances sequer começados...

Tudo se foi, em um vai e vem infinito...
Hora se quer, hora não se quer mais, hora se vive, hora padece...
E o velho poeta já não pode mais com isso...

Os sentimentos antes traduzidos em palavras, agora não passam de grunhidos interiores...
Expressões de dor, angústia, raiva e tristeza...
O que antes formava uma bela frase, agora se faz um ruído agonizante, algo que dá pena, algo que não se pode entender...
Algo que lhe tira lágrimas dos olhos, coisa que há tempos o poeta não fazia...

Mas o poeta está morto, e não se preocupa mais com isso...
Ele não tem mais futuro, não tem mais expectativas, não tem mais inspiração...
O que há muito tempo não lhe acontecia, agora o engole...
Seus sentimentos superaram suas palavras...

Agora, o que o poeta sente, já não se pode mais traduzir em palavras...
O que o poeta vê, não faz mais sentido...
O que o poeta quer, já não acontece mais...

Deitado em meu leito de morte, agora finalmente paro e penso...
Vejo que tudo quanto escrevi, não passou de um sonho mal sonhado...
Sonhos de uma noite mal dormida, noite de um dia mal começado...

O poeta lentamente fecha os olhos, uma lágrima lhe corre as ondulações do rosto deformado pelas emoções...
Ele tenta esboçar um sorriso, tenta abrir os olhos uma ultima vez, tenta tocar nas mãos do anjo...

E por fim, no ultimo momento, o poeta diz:
"O inverno levou a minha flor da primavera..."
E o poeta sucumbiu ao final de suas ultimas palavras...



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